sexta-feira, 14 de maio de 2010

ÁRVORES COM ARMAÇÃO DE ARAME OU FIO ELÉTRICO

Adaptação do artigo publicado na Centro-Oeste 85, de 1/12/1993, pp. 20 a 22

Modelar árvores é uma das ocupações típicas do ferromaquetista, como tal entendido o ferromodelista que gosta de criar cenários para seus trens, baseados ou não em dados reais. E, ao contrário do que muita gente pensa, é trabalho que não requer talento especial, apenas paciência, capricho, senso de observação e bom gosto.

O melhor material para a execução de armações são galhinhos secos, mas, como não é fácil encontrá-los na forma e tamanho desejados, o modelista terá duas opções: adquirir árvores ou armações prontas (geralmente de plástico e importadas) ou fazê-las ele mesmo. O que lhe custará muito menos e poderá oferecer resultados surpreendentes.

No início da década de 1990, quando estava montando minha maquete N, desenvolvi uma técnica para a confecção de árvores montadas sobre armações feitas de fios elétricos de 0,1 a 0,5mm de espessura, preferentemente retirados de bobinas de transformadores queimados, e em arames de pequeno diâmetro, de números 26 a 30. É essa a técnica objeto deste tutorial.

Material

1 pedaço de ripa de comprimento apropriado.

2 pregos 8 x 8 ou 10 x 10.

Fio elétrico ou arame na espessura adequada ao porte das futuras árvores.

Pedaços de isopor de pelo menos 20 mm de espessura, cortados na forma de tronco de pirâmide de base quadrangular, para suportar as armações nas fases de emassamento, pintura e aplicação de folhagem.

Quadrados de cartolina de lado no mínimo 1 cm maior que o da base das peças de isopor.

2 recipientes de boca larga e 10 cm de profundidade mínima.

2 frascos de pasta de modelar (modeling paste), como a produzida pela Acrilex, encontrada em lojas de artigos para artistas.

Tinta látex nas cores branca e preta e corante universal (Xadrez, Coralcor, Suvinil Corante etc.) nas cores verde e marrom.

Flocos e pó de espuma na cor verde desejada

Cola branca, verniz acrílico fosco (matte acrylic varnish), também fabricado pela Acrilex, pinça, pincel redondo pequeno, polvilhador e vaporizador pequenos.

Notas:

1. Os flocos de espuma podem ser substituídos por tufos de líquen e o seu pó pelo de serragem, cujo efeito, todavia, é mais grosseiro.

2. A tinta látex e o corante universal podem ser substituídos por tintas de PVA para artesanato, da Acrilex, por exemplo, que são solúveis em água e miscíveis entre si.

3. Veja abaixo, em Técnicas Correlatas, como fazer flocos e pó de espuma, como preparar o verniz acrílico para ser usado no borrifador e como processar o líquen.

Preparação

1 — Antes de cravá-los, marque a distância entre os pregos na ripa, a qual é determinada pela altura da árvore que se deseja modelar, acrescida de pelo menos 0,5 cm para sua futura fixação na maquete.

Na foto no 1, A, essa distância é de 7,5 cm, altura média de árvores urbanas (cerca de 6 metros) reduzida à escala HO. Perde-se boa parte desses 7,5 cm com a torcida dos fios, a curvatura dos ramos e os 5 mm reservados para a fixação, mas a perda é compensada pela copa, de modo que, na maquete, a árvore deverá ter de 6,5 a 7cm de altura.

2 — Introduza os pregos na ripa deixando pelo menos 6 mm para fora e corte as cabeças deles para facilitar a remoção da meada de fios no momento oportuno.

O ideal é cortar as cabeças primeiro, limar as áreas liberadas para suprimir as rebarbas, e introduzir os pregos em orifícios previamente abertos com uma broca de diâmetro 0,1 mm inferior ao deles.

3 — Encha um dos recipientes de boca larga com a pasta de modelar semilíquida, que se obtém pela diluição a 3:1, ou seja, 3 partes de pasta para uma de água, muito bem revolvida com uma espátula.

4 — Misture um pouco de látex preto com o branco, a fim de obter um cinza de médio a ligeiramente escuro, ao qual acrescente gotas dos corantes verde e marrom para obter a cor aproximada das árvores urbanas, um marrom esverdeado sujo. Despeja-se a mistura no outro recipiente de boca larga, até a metade, completando com água e mexendo bem para homogeneizá-la.

Como Fazer

De acordo a sequência alfabética da foto no 1, o procedimento para a feitura de uma armação é o seguinte:

A — Com a ponta presa num dos pregos, passe o arame de um para outro, sucessivamente, tantas vezes quantas o porte da árvore e o número de galhos o exigirem. O importante é que a operação termine no mesmo prego em que começou, de modo a se obter uma meada com um número par de fios, 12, no caso, para a árvore de porte médio com seis ramos principais mostrada na foto no 1, C, D e E.

B — Solte a meada, dê uma boa torcida numa de suas extremidades, para estruturar o tronco, e apare a outra a fim de liberar os fios, que deverão ser torcidos dois a dois, com uma forquilha nas pontas livres, como se pode observar na imagem C, para facilitar a fixação dos fragmentos de espuma ou líquen que irão formar a copa.

C — Concluído o “esqueleto” da árvore, introduza a extremidade inferior do tronco, reservada para a fixação na maquete, com um pouco de cola branca diluída, num bloco de isopor previamente furado para recebê-la. No final, quando a árvore for retirada para o “plantio”, seu “pé” poderá ser umedecido com água, para amolecer a cola e facilitar a remoção de fragmentos de isopor aderidos a ele com um estilete ou outra ferramenta adequada.

D — Segure o bloco de isopor pela base e mergulhe o “esqueleto” na pasta de modelar (ver Preparação, item 3). Retire-o e remova o excesso com um pincel seco, a fim de evitar a solidificação de gotas nos ramos.

Esta operação deverá ser repetida tantas vezes quantas você entender necessárias para dar ao tronco e aos ramos a espessura requerida, com um intervalo de, no mínimo, 30 minutos entre cada imersão.

Se quiser aumentar apenas o diâmetro do tronco aplique-lhe mais pasta (menos diluída) a pincel. Além disso, você pode trabalhar a pasta para texturizá-la, conferindo-lhe rugosidades, ocos, lascas etc.

E — Decorridos 60 minutos da última demão de pasta, mergulhe a estrutura na tinta (ver Preparação, item 4) para lhe acrescentar cor. Elimine o excesso com um pincel seco, mas evite submeter a armação a um novo banho para não afetar as eventuais manchas esbranquiçadas, que conferem naturalidade ao tronco e aos ramos.

A armação pode ser pintada a pincel, se você preferir usar tinta para artesanato (ver nota 2 do tópico Material) ou trabalhar com a tinta látex não diluída.

Acrescentando a Folhagem

Algumas horas após a pintura, a armação estará pronta para receber a folhagem, que lhe dará o aspecto de um dos exemplares mostrados na foto no 2, de acordo com o material utilizado:

F — armação de arame e folhagem de flocos de espuma artesanal (B), finalizada com pó de espuma artesanal (B).

G — armação de arame e folhagem de tufos de espuma de alta densidade, produzida pela Woodland Scenics, sob o nome de clump-foliage (C).

H — armação de plástico e folhagem de líquen processado (D), finalizada com pó de espuma artesanal (B).

I — armação de arame e folhagem de líquen processado (D), sem pó de espuma.

A fixação da folhagem na armação para formar sua copa, depois que os galhos receberam uma camada de cola branca nos lugares apropriados, pode ser feita de duas maneiras: imergindo os galhos numa vasilha contendo flocos de espuma ou aplicando-lhes porções de flocos de espuma (ou de fragmentos de líquen) uma a uma. Eu prefiro esta última por me permitir maior liberdade na modelagem da copa.

Um simples exame visual das folhagens mostradas na foto no 2 indica que as polvilhadas com pó de espuma (F e H) parecem mais verdadeiras. O pó só deve ser aplicado no dia seguinte ao da montagem das copas, de acordo com o seguinte procedimento:

1— Fixe o suporte de isopor no centro de um quadrado de cartolina (com fita dupla face, por exemplo), de modo que sobrem abas de cerca de 5 mm de cada lado.

2 — Segure o conjunto com uma pinça de bom tamanho por uma das abas do quadrado de cartolina e vaporize a copa da árvore com verniz acrílico em todos os sentidos.

3 — Remova com um pincel seco o verniz que respingar no tronco e nos ramos, polvilhe o pó de espuma (ou de serragem, se preferir) por toda a copa — na parte superior, na inferior e nas laterais — e deixe-a secar bem antes de “plantar” a árvore.

Nota: Trabalhando com líquen importado, cuja qualidade decaiu muito se comparado com o que eu costumava adquirir no princípio dos anos 90, tenha o cuidado de manter seus talos orientados para o interior da copa.

Como Plantar

1 — faça um furo no local escolhido (com uma sovela, um prego montado na extremidade de uma vareta, ou, se necessário, com uma broca) com diâmetro igual ao do pé da árvore, isto é, da parte do tronco não trabalhada, inserida desde o início no bloco de isopor;

2 — segure a árvore pelo tronco, com os dedos ou com a pinça, passe um pouco de cola branca no “pé” e introduza-o no orifício.

Nota: Se o “pé” não ficar folgado, no dia seguinte a árvore estará tão firmemente plantada que sua folhagem poderá até ser podada.

Técnicas Correlatas.

Com fazer flocos e pó de espuma

1 — Corte blocos de espuma branca de 10 ou 15 mm de espessura em pedaços pequenos, como o mostrado na letra A da foto no 2 (mais ou menos 25 mm de lado).

2 — Numa vasilha de tamanho adequado (uma embalagem plástica de sorvete em massa por exemplo), prepare uma boa quantidade de tinta de PVA para artesanato no verde desejado, diluindo-a na proporção de 1 parte de tinta para 4 de água. Mexa a solução com uma espátula estreita de madeira até torná-la homogênea.

3 — Mergulhe os blocos de espuma na tinta diluída e deixe-os imersos por uns 30 segundos para que se encharquem. Retire-os e esprema-os bem entre as mãos, de preferência sobre a própria vasilha, a fim de reaproveitar a tinta escorrida.

4 — Espalhe os blocos tingidos sobre folhas de jornal para apressar a secagem, que deve ocorrer entre 24 e 48 horas, dependendo das condições climáticas.

5 — Depois de bem secos, moa os blocos numa máquina de moer carne manual (as máquinas elétricas domésticas não suportam o esforço) e passe o produto final por uma peneira fina para separar os flocos do pó. Junte a este pó o retido no corpo da máquina durante a moagem.

Notas:

1. Não esprema os flocos tingidos com as mãos nuas, pois será bastante difícil limpá-las depois. Eu costumo usar luvas cirúrgicas descartáveis, que não afetam o tato e são bem baratas.

2. Examine os flocos, após a moagem, e separe os que apresentarem superfícies planas para serem remoídos.

Como preparar o verniz acrílico para ser usado no borrifador.

O verniz acrílico fosco (ver o tópico Material, acima), destinado à proteção de tintas utilizadas em telas e trabalhos artesanais, possui um alto grau de transparência após a secagem e propriedades aglutinantes, características altamente recomendáveis no processo de finalização de árvores e no de fixação de material de cobertura de solo em maquetes. Entretanto, a fim de aumentar sua transparência e reduzir ao mínimo o tamanho das gotículas produzidas pelo borrifador, bem como o risco de entupimento do bico do aparelho, convém ser previamente decantado, para a retirada dos sólidos nele contidos, que Dave Frary diz ser talco. É dele a receita abaixo, para apurar o matte medium, o equivalente americano do nosso verniz acrílico fosco:

1 — Dissolva uma parte do verniz em três partes de “água fluida” (água tornada mais fluida com a adição de duas colheres de chá de detergente por litro), mexendo muito bem com uma espátula estreita (ou sacudindo a vasilha), para homogeneizar a mistura.

2 — Tampe a vasilha e deixe-a em repouso o tempo suficiente para que o material sólido se deposite no seu fundo (uma semana, pelo menos).

3 — Decorrido o tempo de repouso, verta cuidadosamente o líquido em outra vasilha, de modo a não arrastar partículas sólidas consigo. Terminada esta operação, o verniz estará apto a ser usado com o vaporizador, mas, se ficar muito tempo sem uso, convém sacudi-lo antes.

Como processar o líquen

Se tiver oportunidade de colher (em áreas não preservadas, é claro) uma boa quantidade de líquen Cladonia rangífera (ver foto no 2, E), que se apega a troncos de árvores em lugares frios e úmidos, poderá beneficiá-lo e tingi-lo você mesmo, logo após a colheita, de acordo com o seguinte procedimento, baseado na lição de Dave Frary (How to Build Realistic Model Railroad Scenery, 3a. ed., p. 40):

1 — Limpe bem o líquen para livrá-lo de insetos, folhas, restos vegetais, pelos etc. Remova também os segmentos escuros e ásperos de sua parte inferior, e corte seu talo principal pela metade com uma tesoura.

2 — Dissolva corante em pó para tecidos (Tingecor ou Vivacor, da Guarany, por exemplo), na cor desejada, em glicerina comercial, que é mais barata, na proporção indicada pelo fabricante. Acrescente a esta solução 3 partes de água e leve ao fogo numa panela grande.

3 — Quando o líquido chegar ao ponto de fervura, adicione-lhe o líquen — tanto quanto a panela comportar — e deixe ferver por cinco minutos. Ao final da fervura, retire a panela do fogo para que o líquido esfrie até uma temperatura suportável.

4 — Calce luvas de borracha e retire o líquen aos bocados, espremendo-os bem sobre a própria panela, para não perder a tintura, e espalhe-os sobre folhas de jornal para secar, revirando-os sempre que puder.

5 — Dois ou três dias depois, quando já não tingir seus dedos, o líquen poderá ser empacotado em sacos plásticos para utilização futura.

Notas:

1. Para dar mais realismo às suas folhagens, use vários tons de verde e alguns de amarelo.

2. A tintura remanescente poderá ser reutilizada em novos tingimentos, desde que acrescida de mais glicerina e corante, de preferência mais escuro que o anterior. Daí por que você deve começar o tingimento sempre pelos verdes mais claros.

3. Na atual edição de seu livro (p. 141), Dave Frary reconhece que suas dicas para recuperar copas de líquen envelhecidas e empoeiradas não funcionam bem. O melhor, aconselha agora, é remover o líquen e substituí-lo por material sintético. Mas, se as árvores estão em lugar de difícil acesso na maquete ou são em pequeno número, você pode preferir reavivar o líquen, vaporizando sobre ele a seguinte mistura, que deve experimentar antes num fragmento do mesmo material: uma xícara e meia de glicerina, uma xícara e meia de álcool isopropílico e uma colher de sopa de tinta acrílica verde.

Se, decorridas 24 horas, o líquen não houver amaciado, volte a vaporizar a mistura sobre ele. Esta operação deverá ser repetida até que a nova cor sature a folhagem.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

MINI MUNDO

O Mini Mundo, de Gramado, RS, considerado um parque de lazer por seu proprietário, o Hotel Ritta Höppner, é também uma grande maquete a céu aberto, na escala 1:24, como mostram as fotos abaixo, que começam com uma réplica do Porto de Porto Alegre e terminam com a da Ponte Maria (Marienbrücke).

Além do cais de Porto Alegre, também integram o Mini Mundo miniaturas da Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto, e da estação ferroviária de São João del Rei. O resto de suas quase 140 construções, com exceção do Aeroporto de Bariloche, são réplicas de prédios europeus, a maioria da Alemanha. Tudo feito (e muito bem feito!) nas oficinas do parque.

A vegetação da maquete é natural, o que explica o tamanho avantajado de muitas de suas flores, que não se sujeitam às técnicas de miniaturização como a maioria das plantas sob os cuidados dos talentosos jardineiros do Mini Mundo.

















quinta-feira, 8 de abril de 2010

FRESANDO CILINDROS DE PEQUENO DIÂMETRO

Adaptação do artigo publicado na Centro-Oeste 80, de 1/7/1993, p. 19.

Ilustração de Flavio R. Cavalcanti


Para fazer cilindros de madeira de 1 mm — ou menos — de diâmetro, como os utilizados no portão em escala Z que se vê na foto abaixo, desenvolvi uma técnica inspirada na ferramenta que os antigos marceneiros denominavam cavilheira ou cavilhadeira.



Procedimento:

1. Com um punção agudo, puncione uma chapa fina de aço, de alpaca ou mesmo de latão — se a madeira for macia — de modo a formar uma protuberância acentuada na face oposta. Para obter esse resultado, deve-se apoiar a chapa numa peça de madeira (fig. 1).

2. Fure a chapa com uma broca de diâmetro 0,1mm menor que o do cilindro desejado. Alargue-o com uma microlima redonda, de ponta cônica, bem afilada, conferindo-lhe um certo gume (fig. 2).

3. Corte uma barrinha de madeira de seção quadrada, com lado ligeiramente maior que o diâmetro do futuro cilindro, e afile uma de suas extremidades. A madeira deve ser isenta de nós e ter veios mais ou menos retilíneos, para não se despedaçar durante a fresagem.

4. Fixe a barrinha, com a ponta afilada para fora, numa furadeira horizontal (ou numa furadeira manual elétrica presa à bancada). Ligue a furadeira, alinhe a parte convexa do furo da chapa (gume) com a ponta da barrinha e avance até quase o mandril, como mostrado na fig. 3. Isto é feito com a mão direita, enquanto a esquerda apóia a barrinha para amenizar a vibração.

5. Finalmente, alise o cilindro com lixa bem fina (lixa d’água no 600, por exemplo) presa frouxamente entre o indicador e o polegar da mão direita, utilizando a esquerda para evitar o excesso de vibração da peça.

Notas:

Ao contrário do que muita gente pensa, quanto mais dura a madeira (peroba, pau-marfim, cabriúva etc.), tanto melhor será o resultado.

Esta técnica funciona também com barrinhas de poliestireno e PVC, desde que a rotação da furadeira possa ser sensivelmente reduzida para evitar o superaquecimento da peça.

quinta-feira, 25 de março de 2010

COMO PINTAR DORMENTES HO

COMO PINTAR DORMENTES HO

Quando minha antiga maquete N já estava com os trilhos assentados, mas não balastrados, e parte do cenário montada, comecei a achar que havia algo estranho, alguma coisa que destoava da realidade. Entretanto, por mais que a examinasse e indagasse dos visitantes, não conseguia descobrir o que estava me incomodando tanto. Até que um amigo, cujo pai fora ferroviário, me levou a matar a charada, convidando-me para acompanhá-lo a um viaduto, perto de sua casa, para conhecer, de cima, parte de um ramal da antiga Paulista.

Vi os trilhos já enferrujados e tanto mato alto que ficava difícil examinar os dormentes, que mal se destacavam do balastro cinza, espalhado pra todo lado. Quando consegui fixar os olhos num dos barrotes percebi que se confundia com o balastro por ser igualmente cinzento, de um cinza sujo, desbotado, quase branco, com os veios bem aparentes e cheio de rachaduras escuras, completamente diferente dos dormentes pretinhos como ébano que firmavam meus trilhos N, adquiridos na embalagem original.

Se fosse grego, como o matemático Arquimedes, teria saído correndo pelas ruas, gritando “Eureca! Eureca!”, mas como sou brasileiro e fleumático como todo mineiro que se preza, limitei-me a agradecer ao amigo por ter-me facilitado a descoberta da falha e voltei para casa, rindo à toa e disposto a meter a mão na massa para dar a meus dormentes uma cor mais próxima possível da real.

Foi só ao me abeirar da maquete me dei conta da hercúlea tarefa a que me propusera: pintar 3.400 dormentes, pois, descontados os trechos de túneis, sobravam-me 17m de trilhos à vista, com cerca de 200 dormentes por metro! Trabalhando rapidamente com um pincel 0 e com tinta relativamente diluída, levaria em média um minuto para pintar 10 deles, visto que, além da superfície superior, teria de cobrir também as laterais e as extremidades. Assim, para completar o serviço, precisaria de mais de cinco horas, que não poderiam ser contínuas para evitar o cansaço e as dores nas costas e nas mãos. Diante disso e de, por pura sorte, não ter balastrado os trilhos ainda, resolvi recorrer a meu aerógrafo Gatti AG3 (um nacional, já na versão AG8, que adquiri em 1985 e considero melhor que muitos estrangeiros, dentre outras coisas porque pode ser usado sem dificuldade por canhotos), para o qual preparei uma tinta adequada, usando cores plásticas Acrilex, à base de água.

Concluída a proteção do cenário e dos trilhos, em menos de quinze minutos os 3.400 dormentes estavam pintados. Que maravilha, hem!? Nem tanto. Somados esses quinze minutos ao tempo que gastei cortando cartões para proteger o cenário, dividindo 17m de fita adesiva de 12 mm de largura em tiras de 6 mm para cobrir os 17m de trilhos (por motivos óbvios, não é possível usar tesoura, de modo que a fita deve ser estendida, em pequenos pedaços, sobre uma folha de papel parafinado, com a parte aderente para baixo, e cortada com estilete e régua), retirando as proteções e removendo, com tíner, a cola fixada sobre os boletos (boleto, como os ferromodelistas sabem, é o nome técnico da parte superior dos trilhos), cuidando para não ofender a pintura dos dormentes, calculo que levei bem mais de cinco horas para completar o serviço...

Por isso, ao iniciar a construção de minha atual maquete HO (tão crua ainda), atrasada pelos painéis que me vi obrigado a erguer para isolá-la do resto de minha oficina de marceneiro amador, decidi pintar os dormentes antes do assentamento dos trilhos. Comecei com uma pesquisa de materiais, da qual resultou a escolha de mangueiras de silicone, que podem ser compradas em lojas de material para laboratórios, para a proteção das partes metálicas e de óleo de silicone, para as de plástico. Para a pintura, após vários experimentos, elegi uma base (primer) cinza claro, de boa cobertura e secagem rápida. O procedimento é explicado em seguida à foto inserida abaixo da relação dos materiais.

Materiais:

— Alguns metros de mangueira de silicone 2x3,2 (2mm de diâmetro interno e 3,2mm de diâmetro externo), dependendo da quantidade de peças que você pretender pintar juntas;

— 1m de mangueira de silicone 3x5.

— Uma tesoura de lâminas estreitas e retas, como a mostrada na foto abaixo, que pode ser adquirida em casas de artigos cirúrgicos.

— Pelo menos um frasco spray de primer ráp. cinza da Colorgin (#5300).

— Óleo de silicone.



Procedimento:

1. Abra a mangueira 2x3,2 no sentido longitudinal com a tesoura, iniciando o corte normalmente e, a seguir, avançando com as lâminas semiabertas, como fazem os alfaiates, as costureiras e os balconistas de lojas de tecidos.

Notas: O ideal é cortar e abrir apenas um pedaço 2 cm maior que o necessário para cobrir o trilho (o excesso é para proteger suas extremidades), para não correr o risco de fazer um “caminho de rato”. Assim, para pintar os dormentes de uma peça de trilho flexível de 88 cm de comprimento (padrão Frateschi), corte dois pedaços de mangueira de 90 cm antes de abri-los, como explicado acima.

2. Se você é destro, comece a encapar o trilho a partir da extremidade à sua esquerda, com a parte aberta da mangueira voltada para o boleto e deixando uma sobra de 1 cm. Cobertos cerca de 6 cm, pressione a região já protegida com o indicador e o médio (ou o anular e o médio, como lhe parecer melhor) da mão esquerda enquanto vai assentando o resto da mangueira, guiando-a sobre o trilho com a mão direita e forçando-a a “abraçar” o boleto com o dedo indicador desta última, até a extremidade à sua direita, após a qual deverá sobrar ainda 1 cm de mangueira.

Notas: Conforme sua mão direita avança, a esquerda deverá acompanhá-la, exercendo pressão sobre a região já protegida, para evitar que a elástica mangueira de silicone deslize, descobrindo o trilho.

Se isso acontecer, interrompa o trabalho e procure fazer com que a mangueira deslize em sentido contrário, o que não é difícil, até ocupar sua posição primitiva.

3. Para proteger os trilhos de um desvio, antes de começar a encapá-los retire o eletroímã que controla a barra plástica que os aciona (obrigado, Perez). Depois, cubra-os como mostrado na foto, utilizando para a junção à esquerda um pedaço de mangueira de 3x5.

Nota: Pincele as partes de plástico que não devam ser pintadas com óleo de silicone, o meio mais fácil e eficiente para facilitar a remoção da pintura não desejada ao final do trabalho.

4. Terminada a primeira fase do procedimento, acomode os trilhos protegidos que pretende pintar de uma só vez no local da pintura, cuidando para que não fiquem muito espaçados, e pulverize a base sobre eles, observando as instruções da embalagem.

Notas: Costumo dispor os trilhos — flexíveis, curvas, desvios etc. — sobre uma placa de papelão corrugado, limitada, no fundo e nos lados, por um tapume de pelo menos 50cm de altura do mesmo material.

Uma única mão de base, aplicada a média velocidade, é suficiente para dar aos dormentes a cor de madeira velha, com veios aparentes e rachaduras escuras. Se você insistir nas demãos, para que fiquem “bem pintadinhos”, vai deixá-los com cara de dormentes de concreto.

5. Depois de 30 minutos, tempo de secagem ao toque do primer da Colorgin, as peças podem ser removidas, com cuidado, a fim de serem substituídas por outras. Decorridos mais 30 minutos, você já pode destacar as mangueiras de silicone e limpá-las com um pano seco, para serem reutilizadas.

Nota: É muito fácil limpar as mangueiras porque a tinta não adere a elas, que apenas perdem sua translucidez, como se vê claramente na foto acima, que mostra um desvio encapado com pedaços de mangueira 2x3,2 usadas e, na junção, com uma pequena porção de mangueira 3x5 nova.

6 — Se necessário, você poderá retocar os dormentes e outras partes dos trilhos (as relacionadas com o mecanismo de movimentação dos desvios, por exemplo), utilizando um pincel pequeno de cerdas macias e tintas indicadas para a pintura de modelos de plástico (Testors, Tamiya, Exacta), nas cores adequadas (prefiro euroI gray, para ferros, e medium gray, para dormentes, ambas da Testors).

domingo, 7 de março de 2010

CAMA DE GESSO PARA MOLDES COM FACES REENTRANTES

No tutorial FAZENDO E APLICANDO RÉPLICAS DE PEDRA expliquei como proteger moldes de paredes delgadas, usando um miolo e uma “cama” de gesso, que serve também para evitar que a forma se deforme com o vazamento do gesso líquido para a obtenção de uma réplica (ver tópico Moldagem com látex).

Todavia, na descrição do procedimento não levei em consideração moldes com faces reentrantes, as quais são praticamente irrelevantes na execução de formas flexíveis, como as de látex e borracha de silicone, mas, nas rígidas, como as de gesso, impedem que a matriz (no caso o molde de látex com o respectivo miolo) se destaque. Veja a figura 1: sem as camadas retentoras de argila, o gesso líquido, além de cobrir as partes salientes, atingiria o fundo da caixa e subiria pelas faces reentrantes, de modo que, depois de seco, o molde só poderia ser retirado com a destruição do miolo ou da própria cama. Advirta-se que o conceito de face reentrante é relativo, dependendo da posição da matriz, como se infere da figura 2, em que as faces salientes da figura 1 passaram a reentrantes e vice-versa.

O problema das formas rígidas se resolve com sua divisão em duas ou mais peças, a principal, denominada “madre-forma”, e as secundárias, “tasselos”, que se encaixam naquela, como mostrado na figura 2. É essa a técnica indicada para se fazer a cama de proteção, quando o molde tem faces reentrantes, como o mostrado nas fotos que ilustram o tutorial acima citado. O procedimento é o seguinte:

1. A estrutura de contenção ou pré-molde pode ser uma caixa de madeira, de preferência com fundo removível, cujas medidas internas sejam pelo menos 4 cm maiores que o comprimento e a largura do molde e seu miolo. Quanto à altura, as bordas superiores da caixa deverão ficar no mínimo 2 cm acima do topo do molde.

2. As paredes internas da caixa e seu fundo deverão ser revestidos com uma camada de cera, vaselina sólida, óleo de silicone ou qualquer outro antiaderente que impeça a argila e o gesso de aderirem às paredes e ao fundo do pré-molde. A vaselina pode ser liquidificada por aquecimento ou mistura com tíner ou benzina, para facilitar a aplicação.

3. Assente o molde com o miolo no fundo da caixa, devidamente nivelada, de modo que as paredes fiquem a pelo menos 2 cm de seus pontos extremos. Preencha os vãos com argila até os pontos em que se iniciam as faces reentrantes do molde. Não se preocupe em fazer com que as camadas retentoras de argila cheguem até o encontro das faces reentrantes com o fundo da caixa, como na figura 1: o importante é que elas não deixem o gesso vazar para a parte de baixo. Com uma haste de extremidades arredondadas, faça pelo menos duas covas para cada tasselo na superfície das camadas retentoras (a finalidade dessas covas é obrigar o tasselo a ocupar sempre a mesma posição sobre a forma-madre, como se vê na figura 2). Aplique uma camada de antiaderente na superfície de cada tasselo, inclusive nas suas covas. A superfície do molde dispensa o antiaderente porque o gesso não se agarra à borracha.

4. Calcule o volume de gesso líquido necessário para a madre-forma, lembrando-se que é melhor sobrar do que faltar (guarde as sobras para serem transformadas em pequenas pedras, como explicarei oportunamente). Prepare o gesso a 1:1 (veja como no item 5 do tópico Moldagem com látex do tutorial FAZENDO E APLICANDO RÉPLICAS DE PEDRAS) e vaze-o sobre o molde até nivelar com as bordas da caixa (se ficar um pouco abaixo não tem importância). Deixe a madre-forma secar por 24 horas ou mais (quanto mais secos o gesso e a argila, mais facilmente se soltarão da caixa).

5. Quando retomar o trabalho, vire a caixa ao contrário, para retirar seu conteúdo. Caso o conjunto não se solte, coloque calços baixos (5 mm de espessura, no máximo) sob as bordas da caixa, cuidando para que não impeçam a saída da madre-forma, despegue o fundo e faça pressão sobre a base do miolo. A seguir, remova a argila e, se necessário, limpe as paredes e o fundo da caixa. Limpe também as superfícies da madre-forma em que se encaixarão os tasselos (ver figura 2), as quais deverão ser impermeabilizadas com duas ou mais demãos de goma-laca de boa qualidade. É aconselhável reaplicar o antiaderente nas partes das paredes da caixa que entrarão em contato com o gesso.

6. Assim que a goma-laca secar, aplique, por cautela, sobre ela, isto é, sobre as superfícies da madre-forma que deverão entrar em contato com o gesso líquido, uma camada de antiaderente. Reponha o fundo da caixa, recoloque nela o conjunto, com a madre-forma para baixo, e vaze o gesso nos vãos deixados pelas camadas retentoras de argila (figura 2).

7. Deixe os tasselos secarem por 24 horas ou mais antes de remover o conjunto. Se houver dificuldade, proceda como indicado no item 5, acima. Mesmo que não lhe pareça necessário, é conveniente prender os tasselos à madre-forma (com elásticos, por exemplo) para não correr o risco de deixá-los cair durante o manuseio. Quando precisar utilizar o molde, retire os amarrilhos, os tasselos e o miolo, nesta ordem, para liberá-lo. Limpe o interior do molde, recoloque os tasselos e, pronto!, pode vazar o gesso para fazer uma nova réplica, com todos os detalhes da pedra original e sem nenhuma deformação.

8. Dependendo de como pretende utilizar a réplica, observe os procedimentos descritos nos itens 5 e 6 de Moldagem com látex, ou VII de Moldagem com borracha de silicone, do tutorial FAZENDO E APLICANDO RÉPLICAS DE PEDRAS, não se esquecendo de que, para liberá-la, bem como o molde, é preciso remover os tasselos antes. Terminado o trabalho, limpe o interior do molde, insira o miolo, encaixe o conjunto na madre-forma, reponha os tasselos nos respectivos lugares e prenda-os à madre-forma com os amarrilhos.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010



FAZENDO E APLICANDO RÉPLICAS DE PEDRAS

Este tutorial cuida de dois métodos para a feitura e aplicação de réplicas personalizadas, com moldes feitos pelo próprio ferromodelista a partir de pedras interessantes e bem detalhadas, colhidas no quintal de casa, num terreno baldio, num bosque etc.

O primeiro, sobre o qual escrevi um pequeno artigo em 1993, publicado no n° 80 da revista Centro-Oeste, de Flávio Cavalcanti, baseia-se na técnica da moldagem com látex (borracha líquida muito utilizada na confecção de máscaras carnavalescas), que aprendi no excelente How To Build Realistic Model Railroad Scenerey, de Dave Frary. O segundo, que utiliza a denominada borracha de silicone, também em estado líquido, é o preferido por José Balan Filho, autor da maior (1,60 por 5m), mais completa e mais bem decorada maquete ferroviária brasileira feita por uma só pessoa de que tenho notícia. Foi Balan quem me alertou para esta técnica e me forneceu as dicas básicas para testá-la na moldagem de pedras.

Moldagem com látex

Os moldes de látex são feitos aplicando-se sobre a peça original pelo menos cinco demãos do produto, reforçadas com tela Escócia (uma talagarça de algodão de malhas abertas, que precisa ser previamente lavada para desengomar-se), ou gaze cirúrgica, inserida entre a terceira e a quarta camada. Entretanto, quando se pretende fazer várias reproduções ou a pedra original é de grande tamanho, o ideal são 10 demãos, com o reforço colocado entre a 6a e a 7a camada.

Alguns ferromodelistas rejeitam o molde de látex sob a alegação de que, em razão de sua excessiva flexibilidade, tende a deformar-se quando armazenado. Tal inconveniente pode ser facilmente contornado acondicionando-se o molde num lugar seco, a salvo de pressões externas (ver item 4, abaixo). Em se tratando de um molde de 10 camadas destinado a inúmeras reproduções, principalmente se for de grande tamanho, vale a pena perder um pouco de tempo criando um “recheio” e uma “cama” de gesso para protegê-lo, da seguinte forma:

a) para o recheio, faça uma cópia, como explicado item 5, mais abaixo, tendo o cuidado de nivelá-la com as bordas do molde, e deixe-a secar nele;

b) quando a cópia estiver seca, deposite o conjunto num recipiente, com o molde para cima, de acordo com as diretrizes do item II do tópico Moldagem com borracha de silicone;

c) para moldar a cama, encha o recipiente com gesso diluído a 1:1 até as bordas, deixando-o secar completamente antes de remover todo o conjunto;

d) ao guardar o molde, observadas as recomendações constantes do último parágrafo do item 4, abaixo, ajuste-o na cama e encaixe nele o recheio; a cama pode ser utilizada ainda para evitar deformações no processo de vazamento de réplicas avantajadas.

Na época em que escrevi o artigo referido no intróito deste tutorial, era preciso aguardar a vulcanização de cada demão por 24 horas para se dar a seguinte. Atualmente, porém, existem no mercado látices pré-vulcanizados, como o produzido pela DU LÁTEX, de São Paulo, que admitem o intervalo de cerca de uma hora entre as demãos, mormente se a secagem for submetida a ventilação forçada.

O látex é aplicado com uma trincha de largura adequada à matriz, umedecida com “água fluida” (água tornada mais fluida com a adição de duas colheres de chá de detergente por litro) para evitar que o produto grude demais nas cerdas, que devem ser lavadas em seguida com água quente, sabão e tíner, se necessário, para não perderem a serventia. Quando estou trabalhando com látex costumo ter à mão quatro ou cinco trinchas baratas de várias larguras, que, depois de usadas, mergulho no tíner para talhar a borracha e facilitar sua remoção com uma escova de aço, antes da cuidadosa limpeza com água quente e sabão (e escova de aço, se houver necessidade). Não tenha receio de separar as cerdas da trincha para remover os resíduos de látex: se forem bem limpas, elas voltarão à posição normal.

São estes os passos para a elaboração de um bom molde de látex, modelagem de uma cópia em gesso e sua anexação à maquete.

1 – Depois de bem lavada e escovada (com uma escova dura, como as de aço ou latão), para livrá-la dos resíduos de areia e matéria orgânica, fixe a pedra com massa de modelar a uma base plana (tábua, vidro, papelão grosso etc.), a fim de mantê-la na posição desejada.

2 – A primeira demão de látex, aplicada com a pedra ainda úmida, é a mais importante, por ser a responsável pela exatidão dos detalhes. Assim, deve ser o mais fina possível para se entranhar em todas as fendas, fissuras e reentrâncias do original. Convém espessar as camadas seguintes, deixando o produto repousar por cerca de dois minutos na vasilha em que foi vertido para a aplicação e repassando as pinceladas. O látex, tanto da primeira como das demais demãos, deve ultrapassar em pelo menos um centímetro os limites da área a ser reproduzida, aparando-se a sobra ao final do trabalho.

3 – Na moldagem mais rápida, dada a terceira demão, é hora de aplicar o reforço, um pedaço tela Escócia (ou gaze), de área um pouco maior do que a da superfície que se quer reproduzir, o qual é colocada sobre o látex ainda fresco e forçado a se incrustar nele com trincha (ou com os próprios dedos, pois o produto não é tóxico). A seguir, borrife o reforço com “água fluida” e aplique sobre ele a quarta demão de látex, cruzando-se as pinceladas para torná-la o mais espessa possível.

4 – Depois da quinta demão (ou da sexta, se lhe parecer que o reforço necessita de maior proteção), deixe o molde secar bem antes de destacá-lo, levantando-o aos poucos da pedra pelas bordas. Apare as sobras e, se não for usar logo o molde, polvilhe-o interna e externamente com talco e acondicione-o num lugar seco, protegendo-o contra pressões que possam deformá-lo (numa caixa de papelão, por exemplo, cercado de bolinhas de isopor; ou acamado com recheio, como explicado na introdução a este tópico). Toda vez que utilizar o molde, lave-o com capricho, cuidando de remover quaisquer resíduos de gesso, e seque-o muito bem, por dentro e por fora, antes de polvilhá-lo com talco e guardá-lo, a fim de evitar o mofo.

5 – A cópia é feita com gesso de boa qualidade (eu gosto do gesso estuque), diluído a 1:1 (uma parte de gesso para uma parte de água fria) numa vasilha de plástico flexível, dessas que se podem adquirir em lojas de material artístico ou de artigos odontológicos. Coloque primeiro a água e sobre ela despeje o gesso aos poucos. Depois que o líquido absorver o pó, mexa a mistura, lenta e suavemente, para evitar a formação de bolhas de ar, até que ela comece a engrossar (cerca de um minuto e meio), momento em que deverá ser vazada no molde.

6 – Se a área escolhida for recoberta de gesso, você pode aplicar-lhe a pedra moldada logo em seguida, “a fresco”, como costumo dizer: umedeça o local e espalme o molde com seu conteúdo sobre ele, fazendo uma leve pressão para que a base ainda fresca da réplica se ajuste ao relevo da área, essencial para uma boa adesão (caso o relevo da área seja muito acentuado, convém nivelá-lo previamente com uma camada de gesso). Só retire o molde quando a pedra moldada tenha aderido e esfriado o suficiente para se soltar dele sem dificuldade e sem danos, o que ocorre cerca de dez ou quinze minutos.

7 – Se a área não for recoberta de gesso, deixe a réplica endurecer no molde. Para aplicá-la à maquete observe as dicas do José Balan Filho, expostas no item VII do tópico seguinte.





Moldagem com borracha de silicone

I – Depois de limpar a pedra (ver item 1 do tópico anterior), cubra a parte que não pretende reproduzir com uma camada de desmoldante ou, na falta deste, de vaselina em pasta dissolvida em tíner ou benzina a 1:9 (uma parte de pasta para nove do solvente).

II – No método mais simples de moldagem com borracha de silicone, a pedra, após os procedimentos iniciais, é colocada, com a parte a ser reproduzida para cima, num recipiente cujas paredes fiquem afastadas pelo menos 8mm de seus pontos extremos e cujas bordas se situem a no mínimo 15mm acima de seu topo. Tal recipiente, denominado de “estrutura de contenção” ou “pré-molde” pelos técnicos, pode ser de madeira, plástico, metal, cartão encerado ou outro material apropriado, e deve receber também uma camada de vaselina em pasta no fundo e nas paredes, para facilitar a remoção de todo o conjunto no final da operação.

III – Prepare uma quantidade adequada de gesso, como explicado no item 5 do tópico anterior, e verta-a no pré-molde, até atingir a altura delimitada pela camada de vaselina, tendo o cuidado de evitar que respingue na parte a ser reproduzida, e deixe que seque durante uma hora, pelo menos.

IV – A borracha de silicone para a confecção de moldes é um líquido espesso, vendido em embalagens plásticas, de 1 kg no mínimo, juntamente com um frasco contendo a quantidade de catalisador necessária para provocar a solidificação da porção embalada.

Pese uma vasilha (de plástico, metal, porcelana, cartão encerado etc.) e despeje nela o tanto de borracha suficiente para encher o resto do pré-molde e cobrir o topo da pedra até 10mm acima de seu topo (é preferível errar para mais que para menos). Pese a vasilha com o silicone, desconte do total o valor da primeira pesagem para obter o peso líquido do conteúdo, a fim de calcular a quantidade de catalisador que lhe deverá ser acrescentada, aplicando a conhecida regra de três. Por exemplo: se, para solidificar corretamente 1.000g de borracha são necessários 30g de catalisador, para 220g você precisará de apenas 6,6g (1.000/30 = 220/x → x = 30 × 220 ÷ 1.000 = 6,6). O catalisador em excesso faz com que a borracha endureça rápido demais, reduzindo o tempo de manuseio, ao passo que sua deficiência atrasa a solidificação, podendo até mesmo impedir que se complete, deixando a massa pastosa para sempre.

V – Adicione o catalisador à borracha e misture bem com uma espátula limpa até que adquira textura e coloração homogêneas. Para suprimir as bolhas que tendem a se formar no molde, coloque a vasilha numa câmara de vácuo, na qual, a 29 mmHg (ou 3.866,44 Pa, no sistema internacional de unidades – SI), a desaeração completa ocorre em cinco minutos após a formação da espuma (para que se possa realizar a desaeração a vácuo, o volume da vasilha deve ser pelo menos quatro vezes maior que o da quantidade de silicone). Se não possuir uma câmara de vácuo, coloque a vasilha sobre um vibrador, desses usados pelos protéticos, e só a retire quando cessar ou rarear bastante a afloração de bolhas. Não lhe sendo possível contar com nenhum desses instrumentos, deixe a mistura repousar por dez minutos antes de utilizá-la.

Em qualquer caso, pode-se prevenir a formação de bolhas prejudiciais pincelando as reentrâncias da pedra com a mistura. Se surgirem bolhas, quebre-as com um palito, e aguarde por cinco minutos antes de executar o passo seguinte. Não se esqueça de lavar bem o pincel com água e sabão ao término da pincelagem.

VI – Verta lentamente a borracha no pré-molde, o mais próximo possível do topo da pedra, para evitar a formação de bolhas de ar, e deixe-a curar por 24 horas à temperatura ambiente. Se você teve o cuidado de aplicar a vaselina ao pré-molde, como explicado no item II, acima, não será difícil retirar dele o conjunto todo: base de gesso, pedra e molde. Feito isto, separe com cuidado o molde da pedra, puxando-o lenta e continuamente. Nessa operação, não use instrumentos afiados ou pontiagudos e evite movimentos bruscos, para não danificar o molde.

VII – Para fazer uma cópia da pedra, siga as instruções do item 5 do tópico anterior. Deixe a réplica no molde até o gesso secar o suficiente para ser manuseado, o que, se observada a proporção de 1:1 na diluição, deverá ocorrer em pouco mais de uma hora. Destaque réplica do molde e fixe-a no lugar desejado com cola de PVA, ajustando-a ao relevo subjacente com pedaços de atadura gessada, que se adquire em lojas de artigos hospitalares, e aplicação de massa acrílica, como ensina Balan Filho. Segundo ele, suas montanhas são feitas com atadura gessada, que, quando seca, aceita muito bem a aplicação de massa acrílica a pincel. Colocando mais ou menos massa, pode-se definir uma grande variedade de texturas em volta das pedras e nos barrancos, com efeitos surpreendentes na fase da pintura, como você mesmo poderá verificar, acessando o blog dele: http://www.ferreomodelismo.blogger.com.br/

Vantagens e desvantagens dos métodos de moldagem

Látex — A utilização do látex na fabricação de moldes apresenta as seguintes vantagens para os ferromodelistas:

— desnecessidade de catalisadores;

— possibilidade de aplicação “a fresco”, ou seja de fixar a réplica no local desejado minutos depois do vazamento do gesso no molde;

— dispensa de aglutinantes para a fixação e de retoques posteriores, pois na aplicação “a fresco” (ver item 6 do tópico Moldagem com látex) a base da réplica se amolda ao relevo subjacente previamente umedecido e adere naturalmente a ele.

A antiga desvantagem da demora na cura de cada camada foi bastante minimizada com a redução do tempo de espera de 24 para 1 hora apenas, graças à técnica de pré-vulcanização.

As desvantagens persistentes consistem na possibilidade de deformação da réplica na fixação “a fresco”, por excesso de pressão, e na do próprio molde, por falta de cuidados no seu armazenamento.

Borracha de silicone — Eis, a meu ver, as vantagens do uso de borracha de silicone:

— rapidez na execução do molde: salvo um primeiro pincelamento, opcional, o produto é despejado de uma só vez sobre a pedra original, no pré-molde;

— paredes suficientemente espessas para a) evitar deformação da réplica, b) conferir maior durabilidade ao molde e c) dispensar cuidados especiais no seu armazenamento.

Desvantagens:

— exigência de catalisador para a cura, cujo uso incorreto pode inutilizar o trabalho;

— necessidade de balança especial para a pesagem do catalisador na execução de pequenos moldes (ver item IV do tópico Moldagem com borracha de silicone);

— tempo de cura muito longo (mínimo de 24 horas);

— impossibilidade de aplicar a réplica “a fresco” (ver item 6 do tópico Moldagem com látex).

Nota: Segundo meu amigo Newton Carvalho, artista plástico com larga experiência na execução de moldes de borracha de silicone, pode-se reduzir o tempo de cura para pouco mais de uma hora, usando o dobro do catalisador prescrito para determinada quantidade do produto. Esse procedimento permite aplicar o silicone a trincha sobre a matriz, daí resultando um molde de paredes finas, tão finas que precisa ser “acamado” (ver, acima, o segundo parágrafo da introdução ao tópico Moldagem com látex) para não se deformar ao receber o gesso diluído.

Não testei tal técnica, mas cumpre-me advertir a quem se interessar por ela que a secagem superacelarada acarretará a redução do tempo de manuseio da borracha de uma hora pelo menos, na dosagem correta, para alguns minutos apenas. Assim, na cura acelerada, as demãos de silicone deverão ser dadas com a maior rapidez possível, sob pena de não cobrirem devidamente a matriz.

Conclusões:

· Levando-se em conta as características de utilização normal dos dois produtos, é forçoso concluir pela prevalência do látex, caso os fatores preponderantes sejam o tempo e o preço. No que diz respeito ao tempo de execução, iniciado o procedimento às oito da manhã, a réplica obtida pela moldagem com látex poderá estar fixada na área desejada, pronta para receber cor, no fim da tarde, ao passo que com a técnica da borracha de silicone, isso só virá a ocorrer, na melhor das hipóteses, no início da tarde do dia seguinte. Com relação ao preço, além de custar um pouco menos que a borracha de silicone, a quantidade de látex necessária para a execução de um molde é cerca de dez vezes menor que a de silicone, em se tratando de um mesmo original.

· Considerando-se isoladamente o fator tempo, a borracha de silicone, dada a maior rapidez na execução do molde, poderá superar muito o látex se ficar comprovada a viabilidade da cura acelerada (ver nota ao subitem borracha de silicone, acima), e, melhor ainda, se o molde resultante permitir a aplicação “a fresco”.

· Caso o interesse maior resida no armazenamento do molde para propiciar um grande número de reproduções posteriores, o que, em regra, não ocorre com o ferromodelista amador, a vantagem é da borracha de silicone, sem dúvida alguma.

Adicionando cor às réplicas

È recomendável que a réplica só receba cor após sua fixação na área selecionada, a fim de melhor harmonizá-la com o ambiente. As técnicas mais comuns são a do tingimento e a da pintura, expostas a seguir. Conheço bem a primeira, que aprendi com Dave Frary e usei na minha antiga maquete N; José Balan Filho preferiu utilizar a segunda técnica na sua fantástica maquete HO. O leitor poderá verificar os resultados e eleger a de seu agrado comparando as minhas amadorísticas fotos em http://aemesse.fotos.uol.com.br/maquetes com as do Balan, que parecem feitas por profissional, em http://www.ferreomodelismo.blogger.com.br/.

Tingimento — Nesta técnica, ideal na fixação “a fresco”, as réplicas recebem banhos de aguadas (tintas diluídas em água) para adquirirem a cor desejada, à qual se aplicam pequenos retoques a fim de ressaltar luzes e sombras, em conformidade com os seguintes passos:

1. Prepare com antecedência:

§ a aguada básica diluindo duas colheres de chá de tinta nanquim em meio litro de “água fluida” (ver, acima, intróito ao tópico Moldagem com látex) e sacuda bem a solução;

§ a aguada básica mais escura, usando seis colheres de chá de nanquim para meio litro de “água fluida”;

§ a cor básica da réplica, com tintas solúveis em água (acrílico, guache, látex etc.) ou preparadas por você mesmo com corantes universais, escolhendo a cor que mais se aproxime da cor do modelo: terra de siena, queimada ou natural, marrom, escuro ou claro. Se a cor do modelo tender para o azul, acrescente à básica um pouco de azul de cobalto; se a tendência for para o amarelo: amarelo óxido; se para o vermelho: vermelho óxido ou, caso tendência seja muito acentuada, um vermelho vivo, como o francês; a cor básica é menos diluída que a aguada básica: 1 copo de tinta para 2 de água;

§ a tinta para acentuar o brilho das partes iluminadas da réplica, despejando três colheres de sopa de látex branco em meio copo de cor básica e misturando bem;

§ a tinta para as sombras, acrescentando o equivalente a meia colher de café de nanquim a um copo de cor básica.

2. Assim que remover o molde da réplica aplicada “a fresco”, borrife-a, ainda úmida, com a aguada básica até que esta comece a escorrer (se a réplica estiver meio seca, umedeça-a bem com água pura antes de iniciar o processo; se ficou na bancada por dias, deixe-a de molho em água pura até cessarem as bolhas). Em seguida, borrife ou pincele com a aguada básica mais escura as fissuras, reentrâncias e qualquer outra região que sujeita a sombreamento intenso.

3. Aplique a cor básica, a pulverizador ou a pincel, com os banhos anteriores ainda úmidos, para que as aguadas se misturem, conferindo maior naturalidade ao resultado; a seguir borrife ou pincele a tinta preparada para sombras nas concavidades mais profundas da pedra, sem se preocupar com minúcias, como se apenas estivesse manchando tais áreas.

4. Deixe as aguadas secarem um pouco para pincelar os pontos elevados da réplica (aqueles que, no original, são mais afetados pela incidência dos raios solares) com a tinta preparada para as partes iluminadas.

5. No dia seguinte, confira o resultado do tingimento. Se achar a cor demasiado clara, umedeça a réplica e repita o processo até ficar satisfeito. Se, ao contrário, lhe parecer muito escura, a solução é mais complicada: tente clareá-la com banhos de água pura; se não der certo, como ocorre em 90% dos casos, deixe a réplica secar por um bom tempo e pinte-a, de acordo com a técnica descrita no subtópico abaixo. Tenha em mente que quanto mais tinta a réplica receber menos natural parecerá, de modo que é preferível preparar tinturas claras e a aplicá-las repetidas vezes até chegar ao tom desejado.

Pintura — Por falta de experiência em pintura de réplicas de pedras, a sistemática que se segue baseia-se nas dicas gentilmente fornecidas por José Balan Filho, que utiliza a técnica conhecida como “leopardo”.

1. Depois de seca, a réplica é pintada com tinta látex, nas cores marrom, ocre e amarelo, de acordo com o seguinte procedimento:

§ utilize um pincel ou um pedaço de esponja para fazer pequenas “manchas” sobre a pedra de gesso, usando todas as cores citadas, com mais ênfase para a que dará a tonalidade final da réplica;

§ logo em seguida à aplicação das manchas, como se fosse a pele de um leopardo, misture e suavize as tintas ainda frescas com tinta látex preta bem diluída, aplicada a pincel, até obter o tom desejado; não se preocupe se não conseguir o resultado pretendido na primeira tentativa: repinte a pedra de branco e, depois de seca, refaça o processo até se dar por satisfeito;

§ as partes iluminadas (as que no original os raios solares incidem diretamente, por mais tempo) recebem pequenas porções de tinta branca diluída ou com a cor local clareada (como permitem deduzir as excelentes fotos do Balan).

2. Deixe a pintura secar para, em seguida, impermeabilizar a réplica, borrifando-a com cola de PVA diluída a 1:2 (uma parte de cola para duas de água). Para isso, use um borrifador, facilmente encontrado em floriculturas, em casas de artigos para salões de beleza e até mesmo em lojas de 1,99. Teste a cola diluída com o borrifador, aumentando a quantidade de água até obter dele, sem dificuldade, uma “nuvem” homogênea. Se você puder adquirir ou já possuir matte medium (produto utilizado pelos artistas plásticos para afinar a tinta acrílica), utilize-o no lugar da cola diluída, pois é um excelente impermeabilizante. Balan recomenda que não compre o concentrado, mas o pronto, que ele costuma adquirir por 24 dólares o galão.

3. Após a impermeabilização, estando a cola bem seca, pincele ou pulverize uma camada de tinta preta diluída (mais concentrada que a empregada na pintura básica), cuidando para que preencha as fissuras da pedra de gesso. Logo a seguir, com um pano limpo, remova o excesso de tinta preta, de modo que permaneça apenas nas fissuras e, como um leve sombreado, nas demais reentrâncias da réplica. Nesta etapa, se quiser apressar a secagem, você pode usar um soprador térmico ou um secador de cabelos.

4. No dia seguinte, borrife novamente a réplica com matte medium. Isto irá avivar suas cores, conferindo-lhes um brilho acetinado muito próximo da realidade.