Adaptação do artigo publicado na Centro-Oeste 85, de 1/12/1993, pp.
Modelar árvores é uma das ocupações típicas do ferromaquetista, como tal entendido o ferromodelista que gosta de criar cenários para seus trens, baseados ou não
O melhor material para a execução de armações são galhinhos secos, mas, como não é fácil encontrá-los na forma e tamanho desejados, o modelista terá duas opções: adquirir árvores ou armações prontas (geralmente de plástico e importadas) ou fazê-las ele mesmo. O que lhe custará muito menos e poderá oferecer resultados surpreendentes.
No início da década de 1990, quando estava montando minha maquete N, desenvolvi uma técnica para a confecção de árvores montadas sobre armações feitas de fios elétricos de
Material
•1 pedaço de ripa de comprimento apropriado.
•2 pregos 8 x 8 ou 10 x 10.
•Fio elétrico ou arame na espessura adequada ao porte das futuras árvores.
•Pedaços de isopor de pelo menos
•Quadrados de cartolina de lado no mínimo
•2 recipientes de boca larga e
•2 frascos de pasta de modelar (modeling paste), como a produzida pela Acrilex, encontrada em lojas de artigos para artistas.
•Tinta látex nas cores branca e preta e corante universal (Xadrez, Coralcor, Suvinil Corante etc.) nas cores verde e marrom.
•Flocos e pó de espuma na cor verde desejada
•Cola branca, verniz acrílico fosco (matte acrylic varnish), também fabricado pela Acrilex, pinça, pincel redondo pequeno, polvilhador e vaporizador pequenos.
Notas:
1. Os flocos de espuma podem ser substituídos por tufos de líquen e o seu pó pelo de serragem, cujo efeito, todavia, é mais grosseiro.
3. Veja abaixo, em Técnicas Correlatas, como fazer flocos e pó de espuma, como preparar o verniz acrílico para ser usado no borrifador e como processar o líquen.
Preparação
1 — Antes de cravá-los, marque a distância entre os pregos na ripa, a qual é determinada pela altura da árvore que se deseja modelar, acrescida de pelo menos
Na foto no
2 — Introduza os pregos na ripa deixando pelo menos
O ideal é cortar as cabeças primeiro, limar as áreas liberadas para suprimir as rebarbas, e introduzir os pregos em orifícios previamente abertos com uma broca de diâmetro
3 — Encha um dos recipientes de boca larga com a pasta de modelar semilíquida, que se obtém pela diluição a 3:1, ou seja, 3 partes de pasta para uma de água, muito bem revolvida com uma espátula.
4 — Misture um pouco de látex preto com o branco, a fim de obter um cinza de médio a ligeiramente escuro, ao qual acrescente gotas dos corantes verde e marrom para obter a cor aproximada das árvores urbanas, um marrom esverdeado sujo. Despeja-se a mistura no outro recipiente de boca larga, até a metade, completando com água e mexendo bem para homogeneizá-la.
Como Fazer
De acordo a sequência alfabética da foto no 1, o procedimento para a feitura de uma armação é o seguinte:
A — Com a ponta presa num dos pregos, passe o arame de um para outro, sucessivamente, tantas vezes quantas o porte da árvore e o número de galhos o exigirem. O importante é que a operação termine no mesmo prego em que começou, de modo a se obter uma meada com um número par de fios, 12, no caso, para a árvore de porte médio com seis ramos principais mostrada na foto no
B — Solte a meada, dê uma boa torcida numa de suas extremidades, para estruturar o tronco, e apare a outra a fim de liberar os fios, que deverão ser torcidos dois a dois, com uma forquilha nas pontas livres, como se pode observar na imagem C, para facilitar a fixação dos fragmentos de espuma ou líquen que irão formar a copa.
C — Concluído o “esqueleto” da árvore, introduza a extremidade inferior do tronco, reservada para a fixação na maquete, com um pouco de cola branca diluída, num bloco de isopor previamente furado para recebê-la. No final, quando a árvore for retirada para o “plantio”, seu “pé” poderá ser umedecido com água, para amolecer a cola e facilitar a remoção de fragmentos de isopor aderidos a ele com um estilete ou outra ferramenta adequada.
D — Segure o bloco de isopor pela base e mergulhe o “esqueleto” na pasta de modelar (ver Preparação, item 3). Retire-o e remova o excesso com um pincel seco, a fim de evitar a solidificação de gotas nos ramos.
Esta operação deverá ser repetida tantas vezes quantas você entender necessárias para dar ao tronco e aos ramos a espessura requerida, com um intervalo de, no mínimo, 30 minutos entre cada imersão.
Se quiser aumentar apenas o diâmetro do tronco aplique-lhe mais pasta (menos diluída) a pincel. Além disso, você pode trabalhar a pasta para texturizá-la, conferindo-lhe rugosidades, ocos, lascas etc.
E — Decorridos 60 minutos da última demão de pasta, mergulhe a estrutura na tinta (ver Preparação, item 4) para lhe acrescentar cor. Elimine o excesso com um pincel seco, mas evite submeter a armação a um novo banho para não afetar as eventuais manchas esbranquiçadas, que conferem naturalidade ao tronco e aos ramos.
A armação pode ser pintada a pincel, se você preferir usar tinta para artesanato (ver nota 2 do tópico Material) ou trabalhar com a tinta látex não diluída.
Acrescentando a Folhagem
Algumas horas após a pintura, a armação estará pronta para receber a folhagem, que lhe dará o aspecto de um dos exemplares mostrados na foto no 2, de acordo com o material utilizado:
F — armação de arame e folhagem de flocos de espuma artesanal (B), finalizada com pó de espuma artesanal (B).
G — armação de arame e folhagem de tufos de espuma de alta densidade, produzida pela Woodland Scenics, sob o nome de clump-foliage (C).
H — armação de plástico e folhagem de líquen processado (D), finalizada com pó de espuma artesanal (B).
I — armação de arame e folhagem de líquen processado (D), sem pó de espuma.
A fixação da folhagem na armação para formar sua copa, depois que os galhos receberam uma camada de cola branca nos lugares apropriados, pode ser feita de duas maneiras: imergindo os galhos numa vasilha contendo flocos de espuma ou aplicando-lhes porções de flocos de espuma (ou de fragmentos de líquen) uma a uma. Eu prefiro esta última por me permitir maior liberdade na modelagem da copa.
Um simples exame visual das folhagens mostradas na foto no 2 indica que as polvilhadas com pó de espuma (F e H) parecem mais verdadeiras. O pó só deve ser aplicado no dia seguinte ao da montagem das copas, de acordo com o seguinte procedimento:
1— Fixe o suporte de isopor no centro de um quadrado de cartolina (com fita dupla face, por exemplo), de modo que sobrem abas de cerca de
2 — Segure o conjunto com uma pinça de bom tamanho por uma das abas do quadrado de cartolina e vaporize a copa da árvore com verniz acrílico em todos os sentidos.
3 — Remova com um pincel seco o verniz que respingar no tronco e nos ramos, polvilhe o pó de espuma (ou de serragem, se preferir) por toda a copa — na parte superior, na inferior e nas laterais — e deixe-a secar bem antes de “plantar” a árvore.
Nota: Trabalhando com líquen importado, cuja qualidade decaiu muito se comparado com o que eu costumava adquirir no princípio dos anos 90, tenha o cuidado de manter seus talos orientados para o interior da copa.
Como Plantar
1 — faça um furo no local escolhido (com uma sovela, um prego montado na extremidade de uma vareta, ou, se necessário, com uma broca) com diâmetro igual ao do pé da árvore, isto é, da parte do tronco não trabalhada, inserida desde o início no bloco de isopor;
2 — segure a árvore pelo tronco, com os dedos ou com a pinça, passe um pouco de cola branca no “pé” e introduza-o no orifício.
Nota: Se o “pé” não ficar folgado, no dia seguinte a árvore estará tão firmemente plantada que sua folhagem poderá até ser podada.
Técnicas Correlatas.
Com fazer flocos e pó de espuma
1 — Corte blocos de espuma branca de 10 ou
2 — Numa vasilha de tamanho adequado (uma embalagem plástica de sorvete em massa por exemplo), prepare uma boa quantidade de tinta de PVA para artesanato no verde desejado, diluindo-a na proporção de 1 parte de tinta para 4 de água. Mexa a solução com uma espátula estreita de madeira até torná-la homogênea.
3 — Mergulhe os blocos de espuma na tinta diluída e deixe-os imersos por uns 30 segundos para que se encharquem. Retire-os e esprema-os bem entre as mãos, de preferência sobre a própria vasilha, a fim de reaproveitar a tinta escorrida.
4 — Espalhe os blocos tingidos sobre folhas de jornal para apressar a secagem, que deve ocorrer entre 24 e 48 horas, dependendo das condições climáticas.
5 — Depois de bem secos, moa os blocos numa máquina de moer carne manual (as máquinas elétricas domésticas não suportam o esforço) e passe o produto final por uma peneira fina para separar os flocos do pó. Junte a este pó o retido no corpo da máquina durante a moagem.
Notas:
1. Não esprema os flocos tingidos com as mãos nuas, pois será bastante difícil limpá-las depois. Eu costumo usar luvas cirúrgicas descartáveis, que não afetam o tato e são bem baratas.
2. Examine os flocos, após a moagem, e separe os que apresentarem superfícies planas para serem remoídos.
Como preparar o verniz acrílico para ser usado no borrifador.
O verniz acrílico fosco (ver o tópico Material, acima), destinado à proteção de tintas utilizadas em telas e trabalhos artesanais, possui um alto grau de transparência após a secagem e propriedades aglutinantes, características altamente recomendáveis no processo de finalização de árvores e no de fixação de material de cobertura de solo em maquetes. Entretanto, a fim de aumentar sua transparência e reduzir ao mínimo o tamanho das gotículas produzidas pelo borrifador, bem como o risco de entupimento do bico do aparelho, convém ser previamente decantado, para a retirada dos sólidos nele contidos, que Dave Frary diz ser talco. É dele a receita abaixo, para apurar o matte medium, o equivalente americano do nosso verniz acrílico fosco:
1 — Dissolva uma parte do verniz em três partes de “água fluida” (água tornada mais fluida com a adição de duas colheres de chá de detergente por litro), mexendo muito bem com uma espátula estreita (ou sacudindo a vasilha), para homogeneizar a mistura.
2 — Tampe a vasilha e deixe-a em repouso o tempo suficiente para que o material sólido se deposite no seu fundo (uma semana, pelo menos).
3 — Decorrido o tempo de repouso, verta cuidadosamente o líquido em outra vasilha, de modo a não arrastar partículas sólidas consigo. Terminada esta operação, o verniz estará apto a ser usado com o vaporizador, mas, se ficar muito tempo sem uso, convém sacudi-lo antes.
Como processar o líquen
Se tiver oportunidade de colher (em áreas não preservadas, é claro) uma boa quantidade de líquen Cladonia rangífera (ver foto no 2, E), que se apega a troncos de árvores em lugares frios e úmidos, poderá beneficiá-lo e tingi-lo você mesmo, logo após a colheita, de acordo com o seguinte procedimento, baseado na lição de Dave Frary (How to Build Realistic Model Railroad Scenery, 3a. ed., p. 40):
1 — Limpe bem o líquen para livrá-lo de insetos, folhas, restos vegetais, pelos etc. Remova também os segmentos escuros e ásperos de sua parte inferior, e corte seu talo principal pela metade com uma tesoura.
2 — Dissolva corante em pó para tecidos (Tingecor ou Vivacor, da Guarany, por exemplo), na cor desejada, em glicerina comercial, que é mais barata, na proporção indicada pelo fabricante. Acrescente a esta solução 3 partes de água e leve ao fogo numa panela grande.
3 — Quando o líquido chegar ao ponto de fervura, adicione-lhe o líquen — tanto quanto a panela comportar — e deixe ferver por cinco minutos. Ao final da fervura, retire a panela do fogo para que o líquido esfrie até uma temperatura suportável.
4 — Calce luvas de borracha e retire o líquen aos bocados, espremendo-os bem sobre a própria panela, para não perder a tintura, e espalhe-os sobre folhas de jornal para secar, revirando-os sempre que puder.
5 — Dois ou três dias depois, quando já não tingir seus dedos, o líquen poderá ser empacotado em sacos plásticos para utilização futura.
Notas:
1. Para dar mais realismo às suas folhagens, use vários tons de verde e alguns de amarelo.
3. Na atual edição de seu livro (p. 141), Dave Frary reconhece que suas dicas para recuperar copas de líquen envelhecidas e empoeiradas não funcionam bem. O melhor, aconselha agora, é remover o líquen e substituí-lo por material sintético. Mas, se as árvores estão em lugar de difícil acesso na maquete ou são em pequeno número, você pode preferir reavivar o líquen, vaporizando sobre ele a seguinte mistura, que deve experimentar antes num fragmento do mesmo material: uma xícara e meia de glicerina, uma xícara e meia de álcool isopropílico e uma colher de sopa de tinta acrílica verde.
Se, decorridas 24 horas, o líquen não houver amaciado, volte a vaporizar a mistura sobre ele. Esta operação deverá ser repetida até que a nova cor sature a folhagem.